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Heróis anônimos: histórias de solidariedade e ajuda ao próximo durante a enchente do Rio Acre e igarapés de Rio Branco

Heróis anônimos: histórias de solidariedade e ajuda ao próximo durante a enchente do Rio Acre e igarapés de Rio Branco

Nos últimos dias Rio Branco enfrentou uma das maiores tragédias climáticas já registrada na sua história. O Correio Acreano vai contar um pouco das histórias desses anônimos que se arriscaram durante a enchente para salvar pessoas e também levar comida e colchões às famílias atingidas pelas águas do Rio Acre e igarapés.

A chuva alagou o Rio Branco e deixou um rastro de estragos e tragédias, mas trouxe também muitas histórias de solidariedade. Heróis, sem poderes especiais, que não mediram esforços para ajudar desconhecidos que passavam apuros nas enchentes.

Vamos conversar a contar a história de seu Ruy, de 8 anos e Luan de Souza. No fim da noite do dia 23 uma forte e intensa chuva atingiu Rio Branco e seguiu durante toda madrugada do dia 24 e acabou transbordando, rapidamente, o igarapé São Francisco.

Com elevação das águas, segundo Seu Ruy Uchôa de Sena, a porta da sua residência emperrou e não conseguia abrir. A quantidade de água dentro da casa aumentava rápido e, de acordo com o idoso, passou a temer pela vida e pensou que morreria afogado.

“Eu vendo a morte chegar, a água por aqui (no pescoço), e eu pedia lá em cima ‘meu Deus, não me deixa morrer não, me ajude, estou precisando de sua ajuda’. Ele clareou minha mente. Na hora, a única pessoa que veio na mente foi meu vizinho. ‘Em uma hora dessa, eu tenho certeza que ele vai me ajudar’. Quase morrendo afogado já, não tem como sair não, a porta não abria por causa da correnteza. (Ele) chamou uns cabra de força para me tirar”, disse.

Foi aí que entra o Luan nessa história. Ele, que é vizinho do seu Ruy, estava pilotando um jet-ski e passou na frente da casa do idoso. Viu uma mão que acenava para fora da janela. Quando chegou lá, rapidamente subiu no telhado e para fazer o resgate.

“Para salvar as pessoas, não meço limites não. Vou para cima e Deus abençoa o resto. A vida do ser humano é mais importante do que qualquer coisa nesse mundo”, falou Luan, que se sentiu lisonjeado ao estar sendo reconhecido pelo ato que fez.

Outra cena bastante dramática foi de um pai carregando os filhos gêmeos no meio da correnteza. O autônomo Luciano Cunha tinha nos braços, Ângelo e Lorenzo têm apenas 2 meses, precisou de ajuda dos moradores para não ser levado pela correnteza do igarapé Judia.

Luciano contou que a casa onde a família mora, no bairro Recanto dos Buritis, foi alagada pela enchente do Igarapé Judia. Um vídeo que viralizou na internet mostra o autônomo segurando os bebês com um abraço e o outro braço se agarra aos vizinhos que formaram uma corrente humana para ajudá-lo. Pelo menos seis pessoas seguram o pai em meio as águas.

“Não deu tempo de nada, é como uma onda que vem. Quando percebi a água já estava chegando no berço deles e a única atitude foi pegar eles no colo e retirar em meio à correnteza. Foi o que fiz, sem pensar nas consequências e, graças a Deus, deu certo. A gente conseguiu salvar eles, os bens materiais perdemos, mas isso é algo que depois podemos conseguir. A herança maior que temos na vida são os filhos”, contou o pai.

Diante do cenário de destruição deixando pelas águas do Rio Acre e igarapés de Rio Branco, grupo de amigos se juntaram, cada um com sua forma, para ajudar às famílias afetadas pela enchente.

Ao contrário do esperado, o poder público vem deixando muito a desejar quando o assunto é dar assistência a população afetada pelas enchentes. Mas nessa adversidade podemos ver a união, comoção e generosidade de alguns voluntários na busca de doações e na produção de marmitas.

A alagação mobilizou, reuniu, uniu e motivou vários grupos de pessoas a se organizar parar um bem em comum: ajudar pessoas.

Uma dessas heroína do bem foi a influencer digital Jéssica Ingrede, que idealizou o Projeto Partilhar e se mobilizou juntos com alguns amigos e seguidores na arrecadação de roupas e cestas básicas, colchões e kit de limpeza.

Toda a ação foi compartilhada com seus seguidores nas redes sociais.

“Conseguimos levar alimentos e água em área de difícil acesso para moradores que se recusavam a sair de suas casas. Doamos mais de 700 cestas básicas. Mas só foi possível a ajuda dos amigos e seguidores que abraçaram o projeto”, disse a influencer.  

Outra influencer, Ludmila Carvalho, também movimentou as redes sociais junto com alguns amigos em busca de doações para a compra de água e  produção de marmitas. Nos vídeos postados, ela relata sua indignação pela falta de assistência e de planejamento por parte do governo, defesa civil e prefeitura.

A empresária Fernanda Queiroga foi mais uma das pessoas que se sensibilizou e se disponibilizou na doação e na produção de marmitas com o apoio de alguns colegas chegando a fabricar mais de 600 marmitas por dia.

Já o professor Jociel Marques, idealizador do grupo #Futuro, dedicou parte do seu tempo para fazer o resgate de pessoas, entrega de cesta básicas e auxílio na mudança de famílias afetadas pela cheia.

“Esse é o momento em que todos temos que se unir na ajuda ao próximo, independente de lado ou cor partidária, não podemos politizar a situação e sim ajudar com atitudes” disse o professor.

Não é de agora que o professor tem desenvolvido atividades sociais em comunidades carentes na cidade de Rio Branco. Há mais de 10 anos Jociel tem feito essas ações, inclusive voltadas para área da educação e esporte, onde tem desenvolvido ações importantes para vida de muitas pessoas.

Enchente

Os estragos deixados pela forte chuva que atingiu Rio Branco foram são muitos. Pontos de alagamento, rompimento de trecho na BR-364 estão entre os prejuízos. Foram mais de 70 mil pessoas afetadas de 36 bairros de Rio Branco. Além disso, pelo menos, 15 comunidades rurais da capital foram afetadas.

Os igarapés que transbordaram em Rio Branco, são: Almoço, Judia, São Francisco, Dias Martins, Batista, Fundo e Liberdade.

A prefeitura montou nove abrigos em escolas para receber as famílias desabrigadas e trabalha para abrir mais dez.

A chuva começou na madrugada dessa quinta-feira (24) e até às 6h desta sexta, segundo a Defesa Civil do município, já choveu um acumulado de 187,2 milímetros, o que representa mais de 90% de todo o esperado para março, que é de 270,1 milímetros.

Com o volume de chuva, além dos igarapés, o Rio Acre subiu mais de seis metros em poucas horas.

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